segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A mulher do sapo - Parte 2

Entre sua primeira experiência e aquela tarde em que decidiu aderir à moda de beijar sapos passaram-se meses. Depois das chuvas que alagaram a cidade até que dedicou-se a longos e solitários passeios pelas áreas mais úmidas da cidade e uma vez, no Jardim Botânico, quase teve sucesso. Avistou um exemplar, mas quando chegou perto o bicho deu um último salto e escapou no meio de um arbusto. Finalmente, num final de semana na serra, apresentou-se a tão esperada oportunidade. A dona da casa e outros visitantes foram deitar. Ela, sabendo que os sapos aproveitavam a varanda da casa para encurralar insetos nos cantos, permaneceu ali sob o pretexto de admirar um pouco mais o céu estrelado.

Depois que a casa dormiu, apagada, um belo (leia-se grande) sapo apareceu no meio do jardim. Ficou um bom tempo imóvel até o primeiro pulo na sua direção. Entre cada salto também tomou seu tempo. Ela respirava no começo um pouco ofegante, mas a cada pausa do sapo se sentia mais tranqüila e sua respiração ficava mais suave.

Quando ele cruzou sua frente sentiu um arrepio que lhe subiu rápido do calcanhar até a nuca. Quando baixou os olhos deu de cara com o sapo. Ficou de pé e de uma vez o pegou com as duas mãos, como quem levanta uma criança pegando por debaixo de seus braços. Sentiu seus polegares deslizando pelo ventre macio e frio. Fechou os olhos e o beijou. A pressão de seus dedos ao redor do frágil animal o fez ejetar a língua, que entrou serpenteando em sua boca semi-aberta. Depois disso não sentiu nada. Acordou com o cantar do galo, mal deitada na espreguiçadeira e meio zonza. Concluiu que desmaiou antes de terminar o beijo.

(Continua)

# # #
Veja como tudo começou. A mulher do sapo - Parte I

sábado, 14 de agosto de 2010

casa de menino


casa de solteiro
é um playground especial
onde se pode brincar de casinha
sem ser casal.
tem música nova,
lombadas de livros
para ler com os dedos,
fotos de quando menino,
uma pá de ferramentas
e comida essencial.
o que falta mesmo
nunca se descobre,
jogando o jogo
do casual.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

tempo de espera

ela voltou do médico e disse a ele: "se me ama mesmo, esqueça a idéia de ter filhos". mortificado com o tom amargo da voz dela, não teve coragem de perguntar por detalhes do diagnóstico. e jamais ousaria procurar o médico a quem ela confiara os resultados dos exames feitos durante a última viagem dele.

tratou de agir como se nada tivesse acontecido nos dias seguintes e dissolvia a pena que sentia dela e de si mesmo nas lágrimas que deixava cair enquanto dirigia para o trabalho pela manhã. ela não era sentimental e odiaria uma cena em torno disso. simplesmente não tocaram no assunto. e não se tocaram durante quase dois meses.

voltaram a fazer amor numa noite qualquer depois do jantar. não chegaram até o quarto. o gozo simultâneo chegou rápido e durou muito no chão do corredor. ela olhou para ele pelas frestas dos cabelos que lhe caiam sobre o rosto e sentiu que nada havia mudado entre eles. logo sua vida voltou à normalidade.

às vezes ele a surpreendia pensativa olhando pela janela as crianças que passavam a caminho da escola que ficava no final da rua. também percebia as respostas monossilábicas no carro quando regressavam de algum compromisso com amigos que tinham filhos. mas nada que alterrasse seu jeito tranquilo e quase distante de sempre.

para não afetá-la, ele pouco a pouco forjou uma indiferença convincente em relação a crianças. com o tempo ele mesmo creditava a harmonia conjugal que desfrutavam à ausência de filhos.

ele seguiu sendo tudo para ela. definitivamente aquele homem era a melhor pessoa que conhecera em sua vida. não sentia nada além de seu amor por ele e um medo tétrico todas as vezes que em engolia às escondidas sua dose diária de anticoncepcional. quando chegou à menopausa, foram mais felizes do que nunca.

domingo, 8 de agosto de 2010

uma da manhã. meus olhos coçam com a pintura que estou usando desde o meio-dia. tenho sono, mas busco nomes no google e acompanho no facebook a vida de gente que conheço muito e de quem conheço muito pouco também. tento escrever sobre porque gosto de ver meu filho dormindo. penso na água fria que vai gelar minhas mãos e minha cara quando eu for me lavar antes de ir para cama. mãos quentes e grandes mais um beijo de esquimó cairiam bem.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

o último filme com o primeiro homem da minha vida

o último filme que vi com meu pai foi "O Pianista" do Polansky em março de 2003. sim, acho que foi em março... eu quero muito acreditar que esse foi o último filme que ele assistiu no cinema, antes de morrer no mês de agosto do mesmo ano. pode ser que ele tenha assistido a outro filme no cinema porque não esteve doente nem nada depois de nosso encontro, mas eu gosto de pensar que não houve outra ida ao cinema depois daquela. foi uma noite especial onde estávamos apenas eu e ele desfrutando o filme e a companhia um do outro. eu me lembro perfeitamente de como ele ia dizendo baixinho o nomes das músicas executadas no filme e como seus dedos tocavam os braços da cadeira ou seus joelhos como se fossem teclas de um piano. issso me emocionou tanto e até hoje me emociona.

com meu pai eu vi meus primeiros filmes. desenhos da Walt Disney e as Guerrras nas Estrelas nas salas da Cinelândia. eu não curtia ficção cientifíca, mas me sentia muito especial acompanhando ele e meu irmão. principalmente porque meu pai ia sussurando as legendas para mim. com ele vi "O Incrível Exército de Brancaleone" e sequências da Pantera-Cor-de-Rosa. me lembro que algumas coisas vimos no drive-in da Ilha. e que ele nos levou ainda crianças para ver "Kramer vs. Kramer", o que, claro, foi bastante inadequado. muitas coisas nele não encaixavam no padrão de pai perfeito, mas sempre foi louco por mim e pelos meus irmãos.

quando ele morreu eu estava longe. havia falado com ele na noite anterior pelo telefone, mas a última vez que o vi foi mesmo aquela noite no cinema. de cara, achei injusto. demorei para perceber que não poderia haver uma última lembrança mais bonita. e que havia outras como os meus passeios com ele a trabalho no Centro, os banhos de mar, as flores nos meus aniversários de criança, as dedicatórias nas capas dos LPs e a frase "viva e seja feliz" com que ele gostava de se despedir de mim quando eu cresci.

meses depois, meio que desavisada, peguei para ver em casa o filme "Invasões Bárbaras" (Les Invasions Barbares - Denys Arcand). no filme, a filha que está longe, velejando, se me lembro bem, numa dessas regatas que duram meses, se comunica com o pai por internet. e em uma de suas poucas cenas ela diz "o pai é sempre o primeiro homem da vida de uma garota". isso diz tudo sobre meu pai, para mim. e bastante sobre mim.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

cheia das novidades

últimos filmes no cinema: o pequeno nicolau e o bom e velho tarantino com seu à prova de morte. no DVD: um sonho possível. gostei dos três. estou gostando das novidades. primeiro troquei de emprego. agora fui dispensada pelo namorado. trabalho, temas, ônibus e caminhos, companheiros e desafios novos. uma calma e lucidez inéditas. os bons e velhos amigos. um vinho que Daniela não gostou, mas eu gostei. a vida é boa.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

É nóis!

It's gonna be a bright bright bright bright sunshiny day

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Últimos filmes

No cinema

Ontem, assisti à “Mademoiselle Chambon”(Stéphane Brizé, 2009) por indicação de um querido amigo que me disse assim: “a estrela do filme é o silêncio”. Liguei ontem mesmo para agradecer a indicação. A mademoiselle em questão é a professora primária que tira do prumo e cai de amores também pelo pai de um aluno, pedreiro super família. Ela está de passagem e ele está com os pés fincados na vida que tem. Um tipo sólido como as casas que constrói. Sim, sim, há longos silêncios no filme, mas o barulho de máquinas e marretadas na obra em que ele trabalha e a música delicada da moça são mais elementos para perceber o contraste entre eles. O silêncio é sustentado com uma competência fantástica pelos protagonistas. Um detalhe que descobri depois e me pareceu interessantíssimo é que eles são casados na vida real. Em cena, realmente parecem perfeitos estranhos e conseguem com seus gestos e olhares transmitir o desconcerto, a ansiedade, a emoção de primeiros e únicos encontros.

########

No DVD

"Tinha que ser você" (Last Chance Harvey, Joel Hpokins, 2008) - Tinha tudo prá ser mais um desses filmes de amor que andei evitando um tempo prá não ficar mais romântica e boboca do que já sou. Mas tem o Dustin Hoffman e a Emma Thompson. Vale a pena.

"Um homem sério" (A Serious Man, Irmãos Coen, 2009) - As cenas com o cara que está roubando a mulher do homem sério são maravilhosas. Não é um filme prá todos os gostos. Eu gosto.

"Anticristo" (Antichrist, Lars von Trier, 2009) - Por mais estranho que pareça escolhi esse filme prá ver numa brecha em que deixei Mateo na festa de uma amiguinha da escola. Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe são um casal que perdeu o filho. Ele é psicanalista e tenta ajudá-la a superar. Marido amoroso e/ou arrogante profissional? Muitas cenas fortes e pungentes. Me deixou completamente de cara a cena em que ele recusa uma investida dela na cama e diz "it's only a distraction". Nunca tinha pensando em sexo como uma distração para o sofrimento. Isso me deixou triste. É claro que cheguei na hora do bolo com uma cara meio estranha, mas não arrasada o suficiente prá deixar passar um beijinho de côco. Recomendo. O filme e beijinho de côco.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

junho

naqueles dias buscou filmes
repetiu músicas
leu poesias
resgatou primeiras memórias
anistiou boas lembranças
rasgadas do passado recente.
tudo, tudo para saber
se sentir nada
é bom ou nada bom.

estava e não estava triste.

***

no frio carioca,
o musgo da esperança
em simbiose
com os sonhos de sempre
até que vicejava verdinho.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

banguelinha

Talvez tenha sido o primeiro dente que saiu, esse primeiro que caiu. Caiu é modo de dizer, porque eu tive que arrancá-lo puxando com um algodão. Foi rápido e pela reação do guri, não doeu nada. Eu fiquei meio perturbada e achei meio bizarro o buraquinho do dente sangrando. O namorado, que tava em casa na hora, me deu aquela trava quando eu queria fazer compressa de gelo e inspecionar o estado da gengiva. Achei que tinha um branquinho sobrando e que poderia ser um pedaço da raiz... Ele confirmou: “Tá bom, manhêêêêê... Me deixa, manhêêêêê...”

Lavei o dente. Guardei o dente. E um tempinho depois, chorei. O tempo passa tão rápido e juntos, meu filho e eu, vamos vivendo tanto e tanta coisa! Algumas eu não consigo me lembrar, como que dente saiu primeiro ou com quantos meses exatamente ele engatinhou... Outras, desse tempo em que já é “grande”, eu não sei se ele vai se lembrar quando realmente crescer.

Entre memórias e projeções para o futuro, tive um sábado meio melancólico, mas a ginástica para colocar os dois reais da fada do dente embaixo do travesseiro antes dele acordar (esqueci de preparar antes de me deitar!) aqueceu a manhã de domingo. E seu sorriso, como sempre, estava lá para me alegrar. Disso, eu nunca esqueço.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

garantia

trago a pessoa amada em três dias
se você der endereço, telefone, cpf e facebook
se seu cheque não voltar
se a armadilha funcionar,
a anestesia pegar
e ao acordar
a pessoa amada
não se apaixonar
perdidamente
por mim

terça-feira, 1 de junho de 2010

coisas só nossas (deles)

Mateo gosta da Gabi. Ele diz que criança não namora e que todo mundo é amigo. Outras crianças dizem que eles são namorados. Ele já me disse que ela declarou que mais tarde se casaria com outro. Já me disse também que nunca vai ter namorada.
Eles têm segredos, ele contou sem revelar quais eram. Coisas só nossas - respondeu quando eu testei. Quando conversam, às vezes ele toca o cabelo dela. Quase sempre ela sorri. Gabi gosta do Mateo.
Como se chama isso?
Não se chama. É coisa que vem sozinha.

A foto é da Tati. Mãe da Gabi e amiga mais do que querida.
A debaixo também. E a menininha é a Nanda, irmã da Gabi, verdadeiro benchmark de segundo filho. Ela perguntou se iria aparecer aqui também. Fofa! Adoro!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

reality vida # 11

comunicadora e tudo o mais que nossos queridos leitores já sabem, trabalha com a sensação de cabeça vazia e alguns analségicos nas idéias depois de uma crise de enxaqueca. por que sua cabeça dói tanto? minhocas querendo sair? caraminholas querendo entrar? ensaindo vários poemas e o resto do conto da mulher do sapo num bloquinho de notas, entre contas e mais contas, ela só não abre mão ultimamente de ser mãe. o resto, ajeita-se. com paciência, generosidade e sinceridade.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

meu pequeno buda

- Iiiih, Mateo... Você vai ser o primeiro da sua turma a ficar banguelinha, é?
- Não, mamãe. Eu vou ser o primeiro a ficar mais grande!

domingo, 9 de maio de 2010

sobre ser mãe

o que eu sei sobre ser mãe
é o que desaprendo todos os dias.
uma equação ilógica que combina
minhas certezas de grávida
minhas inseguranças de filha
minhas conclusões de observadora de parquinhos
e a pessoa que meu filho é.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

whatever works

funcionou muitíssimo para mim o novo filme do Woody Allen. me diverti. mas hoje de manhã me bateu uma tristezinha. lembrei daquele refrão do Arnaldo Antunes:
Qualquer coooooisa que se siiiiiiinta,
Tem tantos sentimentos , deve ter
algum que sirva.

desse jeito mesmo. cantadinho. enquanto ia olhando pela janela do ônibus.

funcionou. ri de nervoso.

terça-feira, 4 de maio de 2010

as letras do meu filho

ele ainda não faz sílabas.
as letras do meu filho
saem com força dos seus dedos.
todo seu corpo se mobiliza
no ato novíssimo de escrever.
seus lábios se movem
e os olhos buscam sentido
num ensaio do que será ler.

helicóptero é difícil,
mas ele não hesita.
quando acontece, pede ajuda.

letra por letra,
ele constrói um mundo.
cada letra sua é uma esletrinha
que ilumina o céu do meu.

reality vida # 10

comunicadora de ONG e tudo o mais, promove "mostre & conte" com fotinhos de mulheres amigas e queridas de seu coração. momentinhos de alegria, desses dos quais a gente tira energia prá lidar com as durezas da vida.



Pantanal forever!!!! - Mônica, Lysa, Erika e Elaine.



Mais gente que se gosta e gosta de trabalhar juntas - Mônica, Daniela, Lysa, Erika, Elaine e Ciça.



As Graças. Algumas das muitas mulheres da vida de Eduardo Graça - Eveli, Olga, Lysa, Ana C e Consuelo.

domingo, 25 de abril de 2010

paisagem

saindo do túnel velho, olho a estátua no topo de corcovado. vejo um hellraiser de corpo inteiro e braços abertos. penso que a obra prejudicada é o menor dos problemas dessa cidade. a violência, a ignorância cultivada, a desordem e a sujeira cravam olhos e corações num suplício que parece não ter fim.

(foto: uol notícias)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

reality vida # 9

comunicadora de ONG e tal e coisa e coisa e tal, luta contra bugs malignos de um publicador de internet. estreando um vestido lindo que custou baratíssimo (vintão!) ela tenta desfazer a cara de bunda antes de chegar no happy hour com amigas queridas dos tempos do Pantanal. o encontro promete em emoção, risadas e fofocas. ela merece um porre. ela merece!
prá saber do meu trabalho, visite: www.visaobrasil.org

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A volta dos que não foram

O filme teve produção e patrocínio da Gol. Eu e um professor de literatura não embarcamos para Boa Vista na segunda simplesmente porque a companhia "reprogramou a aeronave". Ou seja, "derrubou" o vôo para um trecho que não era tão vantajoso para a empresa. O temporal, mesmo tendo sido assombroso, não teve nada que ver com o caso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quem quiser falar comigo

Me procura na Serra do Tepequém - RR.
Tô lá até dia 10/04.
Câmbio, desligo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

reality vida # 8

comunicadora de ONG, 36 anos, coisa e tal, aguarda carona para levar o filho na festa da filha do primo do outro lado da cidade. oxalá tenha coxinha de galinha!!! aproveita a espera para escrever e tentar organizar os pensa-sentimentos. a imunidade tá baixa, a ansiedade tá alta e no meio tem uma saudade imensa do pai, como se ele estivesse acabado de partir... mas vem aí uma viagem à Amazônia. Roraima. Serra do Tepequém. vai ser bom sair da selva de pedra antes que ela morda alguém.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Últimos filmes

Lá vai uma listinha, sem maiores comentários. Apenas o que eu acho essencial dizer de cada um. Faz um tempo que não falo de filmes. Por que? Minha vida está uma novela. E eu espero sinceramente dar meu depoimento de superação qualquer dia desses. ;0)

# Em DVD #
- O Desinformante (The Informant, Steven Soderbergh, 2009 ) - Baseado em uma história real de um alto executivo picareta e amalucado que acaba virando informante numa investigação do FBI. Matt Damon está ótimo! A música dá um toque a parte.Dei boas risadas.

- Há tanto tempo que te amo (Il y a Longtemps que je T'Aime, Philippe Claudel, 2008) - Drama sobre ex-presidiária que volta ao convívio familiar. No caso, ao lar da irmã mais nova com a qual perdeu completamente o contato durante os anos na prisão, mas com quem já teve uma ligação profunda. A motivação para o crime que cometeu, revelada ao final, a redime (ou não), é claro, mas até lá, o sofrimento nos olhos de Kristin Scott Thomas é o suficiente para fazer nascer algo de compaixão pela personagem. A cena dela colocando a sobrinha prá dormir me pareceu especialmente tocante. Demorei prá ver o filme por medo de ficar mal depois. Não é um filme light.

- Distrito 9 (District 9, Neill Blomkamp, 2009) - Excelente! Vale cada minuto e o estilo documentário foi utilizado com muita propriedade pelo diretor. Sharlto Copley, no papel do bobalhão Wikus Van De Merwe, manda muito bem.


# No cinema #
- Avatar (James Cameron, 2009) - Uma grande bobagem! A tecnologia é tudo de bom, mas de resto não sobra nada. Achei breguinha aquele visual néon das cenas noturnas e me lembrei daquele pedaço da música "nosso apartamento, um pedaço de Saigon"... Cruzes! haha

- O Segredo de Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos, Juan José Campanella, 2009) - Os argentinos, pelo menos os porteños, têm fama de serem metidos a besta... Depois desse filme não vai dar prá deixar de colocar banca. E não é por causa do Oscar, não. É por causa da arte do bom e velho cinema, com começo, meio e fim, e uma história bem dirigida. Deu uma dor de cotovelo ver o filme. Por que nosotros não fazemos um filme assim? Fiquei de cara com o Guillermo Francella, comediante popular famoso por encarnar o típico "chanta", que está simplesmente maravilhoso no papel de bebum e boa praça. Quando morei no Peru me divertia muito vendo um programa velho dele chamado "Poné a Francella".

Mais depois... Me animei e passou da hora.

terça-feira, 23 de março de 2010

nuts

queria livrar-se dos merdelhumes(*) da alma como fizera com os cacarecos da estante. não podia. forçava sua saída, mas se agarravam e faziam sangrar suas entranhas.

um dia conseguiu. ao vê-los boiar contra a louça rosa percebeu que não se tratava de eliminá-los. seria como mal lavar. borrando sem limpar.

se deu conta de que aquilo a constituía.

sem nojo, seus olhos delimitaram contornos. as pontas dos dedos conferiram texturas e com a palma da mão direita decifrou seu peso.

sem pena, comeu-os de volta. um por um.

ergueu-se e caminhou até a sala. arrematou com um porto.

foi se deitar sem lavar os dentes.

# # # # # # # # #

Corrigido - (*) Ouvi a palavra merdelhumes de uma mulher querida. ela me disse que a mãe de uma amiga sua de São Paulo - uma mulher incrível, arquiteta auto-didata, romena de nascimento e refugiada de guerra - usava essa palavra para "coisas inúteis em geral, aquelas que não farão falta jamais, mas que todo mundo tem alguma ou muitas".... Pensava quando escrevi que eram comidinhas e lanchinhos, com o mesmo sentido que meu pai usava a palavra besteiras. Não era, mas acho que ficou bem contado.

domingo, 21 de março de 2010

reality vida # 7

comunicadora de ONG, 36 anos recém-completos, coisa e tal, sob o efeito de Bob Esponja (o filme!), um comprido de tandrilax e colheradas de dulce de leche La Serenissima completa parte do trabalho que trouxe para casa. começo da noite, aquela mistura dominical de tédio e ansiedade fecha um final de semana que foi bem bom. comida baiana das boas na casa de gente querida, primeiros passos de um bebê em minha direção, Mateo feliz e namorado prá acompanhar. está na hora de ver a cara da rua e deixar o domingo terminar.

o moleque acabou de chegar

quando ele vai, é sempre saudade
quando ele volta, é sempre novidade
e ao mesmo tempo
o mesmo de sempre
meu

"ô ô ô e á/o moleque acabou de chegar
ô ô ô e á/nessa cama é que eu quero sonhar
ô ô ô e á/amanhã bato a perna no mundo
ô ô ô e á/é que o mundo é que é meu lugar"
(gonzaquinha)




quarta-feira, 10 de março de 2010

uma conclusão

tenho um blog auto-suficiente!
eu mesma escrevo, eu mesma visito
e gosto do que vejo por aqui.

nesta data querida

me dá parabéns que eu gosto
gosto da festa
e da alegria açucarada
desse momento

gosto que me queiram bem
e me desejem o melhor
hoje e sempre

e os presentes
ah, os presentes

gosto de confiar
nos meus pedidos
e soprar prá longe
o tempo que resta
desde o dia
em que nasci

sábado, 6 de março de 2010

Vínculo ético com o futuro ou porquê vou votar em Marina Silva

Quem tem um filho já estabeleceu um vínculo com o futuro. Mesmo que não faça nada a respeito, se tudo correr normalmente, seus genes farão parte da humanidade por, pelo menos, mais uma geração. Se você é do tipo que faz, ou seja, exerce sua maternidade ou paternidade, sabe que a gente não se contenta em ter garantido a continuidade da espécie. A gente se preocupa em dar todo o amor do mundo, com a educação em casa e na escola, com a alimentação e a saúde, e com tantas outras coisas que a gente acredita são fundamentais para garantir o melhor futuro para os nossos filhos e filhas. É um vínculo essencialmente amoroso com o futuro.

Desde que Mateo nasceu eu me sinto conectada com o futuro e responsável pelo SEU futuro. Eu tenho alguma consciência de que não posso garantir 100% do que quer que eu projete ou sonhe para ele. Mas vivendo novamente no Rio, voltamos há quatro anos para a cidade onde eu nasci, sinto o futuro ameaçadíssimo pelo presente violado e violento de milhares de crianças.

Quando eu desvio meu olhar medroso de crianças que perambulam pelas ruas, ou disseco imagens de meninos com “arminhas” de madeira na tela do computador, eu me pergunto onde estão seus pais e mães. Eu fico indignada com a ausência do poder público. Eu converso depois com meus amigos. Eu choro sozinha olhando meu filho. Há algum tempo eu penso que não basta ele ser amado, educado, bem alimentado e saudável. Os filhos dos outros também merecem tudo isso.

Essa conclusão não me levou muito longe até agora, mas ontem eu experimentei algo diferente. Eu ouvi a senadora Marina Silva falando sobre como precisamos estabelecer um vínculo ético com o futuro. O tema de fundo era outro, mas ela mencionou o fato de crianças terem traficantes como ídolos e armas como objetos de desejo numa fala sobre mudanças que precisamos fazer em nossos padrões de consumo e o quanto contextos e valores afetam nossos desejos e escolhas.

Antes que alguém me chame de ingênua, declaro que sei que ela está em campanha e que, sendo assim, as mazelas do Rio muito provavelmente estavam em sua pauta como parte da visita à cidade. Não foi uma mensagem especial para mim, mas tocando no assunto ela mais do que garantiu um voto que já seria seu.

A senadora me ajudou a entender que mais do meu vínculo amoroso com seu futuro, Mateo precisa de meu vínculo ético com o futuro das outras crianças. Mateo e todas as nossas crianças precisam ter assegurados seus direitos.

Parte do meu vínculo com o futuro será, é claro, votar em Marina Silva para presidente e incentivar a todos que conheço que façam o mesmo. Não importa quanto de chance a candidatura tem. Eleição não é corrida de cavalo nem loteria. Ganha quem tem mais voto. E se a Marina Silva ganha, o futuro ganha.

Leia o artigo Só Marina é futuro, de José Eli da Veiga.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

reality vida # 6

comunicadora de ONG, 36 anos no próximo dia 10 e tals, entrega os pontos depois de 1 hora empacada na mesma frase de um roteiro que leva mais de 3 dias escrevendo. que frustração! faltam cerca de seis horas para ver o filho, depois de quase 3 meses... que ansiedade! a TV ligada no BBB. que merda! decide que vai dormir. que sensato!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

saudades de mãe

tendo você já cinco anos, milhares de milhas voadas e faltando apenas seis dias para sua volta, chego à conclusão de que era bem mais fácil esperar por você, quando eu estava esperando você.
tinha muito medo, curiosidade e ansiedade. mas tudo era pinto perto dessa saudade. volta logo, Mateo!
e toda vez que for, aonde quer que for e quando for, volta sempre.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

obrigada, garotas!


Carol, Bia, Erika e Lysa

eu acredito que
por alguma razão,
que não tem nada que ver
com os nossos motivos e escolhas,
coincidimos outra vez
no mesmo lugar do mundo.

e estou gratíssima
porque podemos mais uma vez
disfrutar de tão fina companhia,
aprender das mulheres que somos
e falar com tanta fé
do que ainda queremos ser.
e como se isso ainda fosse pouco, tem o Théo.


Lysa e Théo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A mulher do sapo - Parte I

“- Mulher só não casa com sapo porque não sabe quem é o macho e quem é a fêmea.”

A frase em tom de veredicto seguida pela gargalhada franca que a arrematou havia sido dita pelo homem da mesa ao lado, à mulher que o acompanhava. Saiu do estado de concentração com que catava os brotos de feijão de sua salada. Malditos brotos! Deixavam um gosto metálico em sua boca, que relaxara e agora sorria discretamente.

Não chegou a ver quando o casal deixou o restaurante. Continuava separando brotos de pedaços de alface, cenoura, tomate e sementes de girassol. Seguia pensando que aquele cara não sabia que beijar sapos em busca de príncipes voltara à moda.

Os homens andavam tão raros em quantidade, e principalmente em seus modos, que princesas não tiveram outra opção que lançar mão do costume milenar aprendido diretamente dos contos de fadas. E como os tempos eram outros e a democracia reinava em praticamente todas as partes, ou pelo menos se acreditavam nisso também, as plebéias também tinham direito a tentar a sorte. Do mesmo modo, aqueles plebeus vítimas do terrível feitiço também tinham sua oportunidade de virar novamente seres humanos.

Parece que o sujeito não estava mesmo bem-infomado. Atualmente se casavam e viviam felizes para sempre (ou não) princesas e príncipes, plebéias e plebeus, princesas e plebeus e plebéias e príncipes. Sendo que os dois últimos casos, os de consórcio entre classes, eram menos freqüentes e havia quem afirmava que eram mais suscetíveis a um final infeliz.

(Cena do filme "A princesa e o sapo", 2009)

Ela mesma conhecia mulheres maduras, adultas e mocinhas, que andavam a beijar sapos em laguinhos, córregos e outros recantos úmidos da cidade em noites de pouca lua. Lua cheia não favorecia a atividade, pois facilitava a vida dos predadores dos pobres animais que, como não eram burros nem nada, evitavam sair de suas casinhas quando tamanho holofote brilhava lá no céu.

Fontes fidedignas já haviam lhe contado meia dúzia de “cases de sucesso”, leia-se “casamento”.

Ultimamente ela sentia vontade de provar. Evoluíra do asco absoluto a um nojo que considerava ser capaz de administrar. Animavam-lhe não só os relatos e o empenho de amigas e conhecidas, mas a constatação de que já havia suportado (fisicamente!) coisas semelhantes ou até piores como: línguas no ouvido que sequer provaram seu nome, mãos de mijões de calçadas e cabelos ensebadinhos.

Sem contar outros suplícios, de natureza mais sutil, como beijos cinematográficos bem no meio do filme, e escrotidões definitivas como comentários racistas e homofóbicos ou grosserias com atendentes justificadas por “o cliente tem sempre razão”.

Espetou o último pedacinho de tomate e lambuzou com o caldinho de maionese de soja e azeite de oliva que fazia poça no prato. Sorriu grande para o ventilador na quina da parede. Levantou-se, pagou a conta e saiu decidida a experimentar.

(Continua.)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

vestida de gente

o carnaval na esquina
e uma tiara de preocupações
lhe adornava a cabeça
levava o traje sufocante do verão
arrematado por um nó na garganta
tinha pés calçados de líquido
ao final de cada dia
sorrindo para si mesma
ela não estava para fantasias

reality vida # 5

comunicadora de ONG, 35 anos e tals, depois de 9 noites dormindo no fresquinho de um split no apê de temporada em Buenos Aires realiza o sonho do ar-condicionado próprio. afinal, as compras a prestação estão aí prá isso mesmo. a instalação foi cortesia do namorado. o filhote parece que não volta nunca (exagero de mãe! dia 28 ele chega...) e malhar que é bom, por enquanto, nada.
********
momento utilidade pública: sem conseguir que lhe dessem um passaporte de emergência no Galeão, ela rumou para o Rio Poupa Tempo no Shopping Grande Rio em São João de Meriti. não foi rapidinho, mas o atendimento foi ótimo. era uma sexta-feira. a identidade estava pronta na terça.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

En Baires

oito dias em Buenos Aires. calor. sol. nada de praia e muito menos de chocolate quente. haha è uma cidade bonita, bem planejada, onda europèia, mas sinto algo decadente. penso que há uns trinta, vinte anos atrás, a gente (do Brasil) vinha aqui e achava tudo coisa de "primeiro mundo" mesmo. o subte me parece um bom exemplo. quando a gente pensa que numa cidade como o Rio o metrô demorou tanto para acontecer.
····
coisas que adorei/estou adorando:
- as risadas que dou com Fred
- encontrar minha amiga Diamy, peruana que está vivendo aqui
- helado de dulce de leche
- os prédios velhos
- casais curtindo os bares de Palermo com seus niños a tiracolo
- comer no café das Madres de Plaza de Mayo, que sao também avós que recuperaram netos e netas roubados pelos militares.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

reality vida # 4

comunicadora de ONG, 35 anos, coisa e tal que estão em # 1 e 2 (pros que começaram a ver agora) descobre que o embarque para Baires está ameaçado porque seu RG tem mais de 10 anos de expedido. já havia ouvido um papo de "identidade velha não passa", mas o bom estado do documento a fez crer que estava tudo ok. fontes fidedignas e uma breve pesquisa no google confirmaram os 10 anos. lascou-se. o passaporte tá vencido também. tsc, tsc, tsc... na maior pilha do mundo, não consegue dormir pensando no processo que tem adiante prá conseguir um passaporte de emergência. sem contar os duzentos reais nos quais vai morrer! mas como "quem não morre, não vê deus", galeão aí vamos nós. no capítulo de hoje chove a cântaros na cidade maravilhosa, as saudades do filhote apertam, o sonho do ar-condicionado próprio vai rolar até o carnaval e até que ela tem conseguido malhar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

residências

fiz minha casa no teu cangote
não há neste mundo o que me bote
pra sair daqui
- canta Céu

já morei em buraco de esterno fundo
em palma de mão grande
em cheiro de sabonete
em cantinhos d'olhos
e dentro dos olhos de outro alguém
do qual um pedacinho habitou meses em mim

casa nova no momento estou buscando
com prazer e confiança
numa única vizinhança
para a qual desconfio
que meu umbigo pode ser casa também

domingo, 10 de janeiro de 2010

arrumação

abrir gavetas
revisar montinhos de papéis
separar objetos
classificar coisas importantes
e coisinhas relevantes
sorrir com uma foto
recordar algo bom
colocar em perspectiva
o que foi ruim
guardar o que deve ficar
jogar fora o que precisa
ou pode ir

o novo antes de ser velho
precisa de espaço
para ser