segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A mulher do sapo - Parte 2

Entre sua primeira experiência e aquela tarde em que decidiu aderir à moda de beijar sapos passaram-se meses. Depois das chuvas que alagaram a cidade até que dedicou-se a longos e solitários passeios pelas áreas mais úmidas da cidade e uma vez, no Jardim Botânico, quase teve sucesso. Avistou um exemplar, mas quando chegou perto o bicho deu um último salto e escapou no meio de um arbusto. Finalmente, num final de semana na serra, apresentou-se a tão esperada oportunidade. A dona da casa e outros visitantes foram deitar. Ela, sabendo que os sapos aproveitavam a varanda da casa para encurralar insetos nos cantos, permaneceu ali sob o pretexto de admirar um pouco mais o céu estrelado.

Depois que a casa dormiu, apagada, um belo (leia-se grande) sapo apareceu no meio do jardim. Ficou um bom tempo imóvel até o primeiro pulo na sua direção. Entre cada salto também tomou seu tempo. Ela respirava no começo um pouco ofegante, mas a cada pausa do sapo se sentia mais tranqüila e sua respiração ficava mais suave.

Quando ele cruzou sua frente sentiu um arrepio que lhe subiu rápido do calcanhar até a nuca. Quando baixou os olhos deu de cara com o sapo. Ficou de pé e de uma vez o pegou com as duas mãos, como quem levanta uma criança pegando por debaixo de seus braços. Sentiu seus polegares deslizando pelo ventre macio e frio. Fechou os olhos e o beijou. A pressão de seus dedos ao redor do frágil animal o fez ejetar a língua, que entrou serpenteando em sua boca semi-aberta. Depois disso não sentiu nada. Acordou com o cantar do galo, mal deitada na espreguiçadeira e meio zonza. Concluiu que desmaiou antes de terminar o beijo.

(Continua)

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Veja como tudo começou. A mulher do sapo - Parte I

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