terça-feira, 23 de março de 2010

nuts

queria livrar-se dos merdelhumes(*) da alma como fizera com os cacarecos da estante. não podia. forçava sua saída, mas se agarravam e faziam sangrar suas entranhas.

um dia conseguiu. ao vê-los boiar contra a louça rosa percebeu que não se tratava de eliminá-los. seria como mal lavar. borrando sem limpar.

se deu conta de que aquilo a constituía.

sem nojo, seus olhos delimitaram contornos. as pontas dos dedos conferiram texturas e com a palma da mão direita decifrou seu peso.

sem pena, comeu-os de volta. um por um.

ergueu-se e caminhou até a sala. arrematou com um porto.

foi se deitar sem lavar os dentes.

# # # # # # # # #

Corrigido - (*) Ouvi a palavra merdelhumes de uma mulher querida. ela me disse que a mãe de uma amiga sua de São Paulo - uma mulher incrível, arquiteta auto-didata, romena de nascimento e refugiada de guerra - usava essa palavra para "coisas inúteis em geral, aquelas que não farão falta jamais, mas que todo mundo tem alguma ou muitas".... Pensava quando escrevi que eram comidinhas e lanchinhos, com o mesmo sentido que meu pai usava a palavra besteiras. Não era, mas acho que ficou bem contado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário